quarta-feira, 31 de março de 2010

Impunidade: uma carta branca para o crime??

Não é de hoje que a sensação de impunidade assola nosso país. Durante muitos anos acompanhamos inúmeros casos de crimes e ações moral e juridicamente reprováveis que não desembocaram em um final justo e coerente.
Quantas famílias vivem o dissabor de ter perdido um ente querido em uma situação de violência urbana e nada ter acontecido ao criminoso que vitimou aquele cidadão?!
Recentemente, em nossa cidade, presenciamos a morte da empresária Marcela Montenegro, vítima fatal de uma bala durante uma tentativa de assalto. No mesmo dia em que a jovem fora vitimada, inúmeros cidadãos também sofreram ações violentas por parte dos algozes da marginalidade. A morte de Marcela foi noticiada nacionalmente e chocou a todos pela emboscada criminosa e por contar até com a participação de uma criança de apenas onze anos.
Em nosso País a maioridade penal ocorre somente aos dezoito anos. Um contrassenso de dura compreensão, haja vista que o menor de dezesseis anos pode escolher os nossos governantes e, ao mesmo tempo, não ser maduro o suficiente para responder por suas atitudes criminais.
Particularmente, sou favorável à redução da maioridade penal. Não podemos encobrir a verdade e acreditar que um adolescente de fato não saiba o que faz. O citado menino de onze anos, que já está completamente tragado pelo mundo do crime, talvez possa ser recuperado se verdadeiramente fosse punido. Sem punições ou uma ação efetiva do Estado não há como retirar inúmeras crianças do caminho torto e sombrio da marginalidade. Políticas públicas de educação e geração de renda funcionariam a longo e médio prazo, mas, na atualidade, necessitamos de pulso forte contra o crime.
Lembre-se que esse menino será uma espécie de totem em sua comunidade, porquanto mesmo tendo sido uma peça decisiva para que o crime ocorresse, nenhuma represália foi sofrida por ele. Alguns meios de comunicação chegaram a entrevistá-lo e era deprimente ver uma criança agir e falar como um bandido da pesada. Sua mãe que também foi entrevistada agia com uma gélida naturalidade. Ao redor do garoto, outros meninos brincavam e interagiam com ele como se nada tivesse acontecido. E, de fato, para aqueles indivíduos nada ocorreu. Afinal de contas quem morreu foi uma moça que eles não conheciam e que tão pouco lhes importa.
Esse é o retrato da banalização da vida. Não basta somente assaltar. Ceifar a vida de inocentes é um “plus”, um “up” ao curriculum vitae dos marginais de nossa era.
A família da empresária deu um exemplo fantástico ao tentar superar sua dor e organizar uma passeata como uma maneira de pedir Paz e Segurança.
O Poder Público, como sempre, se fará de surdo e louco. Até porque nossos governantes usam carros blindados e não circulam na cidade como “nosotros”, não é mesmo?!
O que me surpreendeu foi a baixa participação da comunidade em geral. Estive presente e pude constatar o quão acomodado somos em geral. Reclamar do Secretário de Segurança, da Polícia e do Governador é muito fácil, mas na hora de sair do conforto de nossos lares e da mediocridade de nossas vidas, muitos não o fazem.
Lamento por toda nossa sociedade que poderia seguir o exemplo da família Montenegro e de outras famílias membros da APAVV (Associação de Parentes e Amigos de Vítimas da Violência) que não se calaram perante sua dor e seguiram em frente, buscando uma resposta real e efetiva do Estado.
A dor dessas famílias é uma dor única, pois qualquer um de nós poderá figurar como uma vítima ou ter um ente querido engordando as grotescas estatísticas das vítimas dessa verdadeira guerra urbana.
Até quando???
Chega de acomodação!!!!!

4 comentários:

Tony disse...

Querida Lia, não conheci a Marcela mas tenho alguns amigos que a conheciam. Graças a Deus a violência de Fortaleza nunca tirou a vida de ninguém próximo a mim, mas tenho alguns amigos que perderam pessoas próximas.
Na verdade só nos damos conta da violência quando ela bate à nossa porta. Talvez por isso sua indignação sobre a falta de mobilização da sociedade - já me senti muitas vezes assim também. Só que infelizmente não são todos que conseguem se fazer escutar. Pessoas "comuns" não conseguem o espaço na mídia para suas manifestações, assim como aconteceu com a passeata pela Marcela. Além disso, ao se divulgar tal passeata como a "passeata da Marcela", muita gente deixou de se sentir responsável por estar lá, já que o problema "não era seu".
A quanto tempo vemos uma matança desenfreada nos suburbios da cidade? Alguém já se mobilizou para acabar com essa guerra? Quando se mobilizou, não conseguiu repercussão alguma, pois não tinha ninguém "importante" por elas.
Infelizmente o que aconteceu à Marcela, é consequência do que acontece nos subúrbios, e se não acabarmos com um problema, não acabaremos com o outro.
Se passeata resolvesse problema de violência, o Rio não padeceria desse mal. Mobilizar a sociedade não é só fazer uma passeata e voltar pra casa. Não sou expert no assunto pra dizer o que resolve, mas devemos tentar outras coisas novas. A APAVV seria uma boa candidata a tomar algumas iniciativas que realmente incomodassem os governates, pois só assim eles se movem. Que tal divulgarmos estatísticas atualizadas sobre a violência? Colocarmos um contador gigante em praça pública mostrando quantas pessoas são assassinadas no ano? Nem a própria polícia tem essas estatísticas - provavelmente por não ser interessante ter. É apenas uma idéia de várias que poderíamos ter.
O que conta para o Governo atual é a "sensação" de segurança, ao exibir policiais em carrões nos pontos turísticos. Enquanto isso, todos os dias, os índices de criminalidade aumentam e pessoas que não formam opinião morrem por todo lado.

Abraço,

Tony

Lia Skaty Pinheiro disse...

Tony, seu posicionamento é muito pertinente e abre o leque do debate sobre que ações podemos tomar, além da reclamação ou da revolta. Admiro a família da falecida Marcela por tentarem alertar através do seu sofrimento o nível de abandono que encontra-se nossa cidade. A vida de Marcela não voltará mais, mas pelo menos, os seus pais e irmãs levantaram uma bandeira pela Paz e Segurança. Assim como você, eu também nõa conhecia a vítima, estudei com sua irmã Manuela e meus pais conhecem os pais dela.Concordo com as falhas na logística do evento e acato suas sugestões. São Incríveissss!! Principalmente a de se contabilizar as vítimas diuturnamente. Tony, obrigada por sua participação non blog! Vamos debater e influenciar nossos contatos e amigos e dar o troco nas urnas, não é mesmo?! Um Abraço e Boa Páscoa! Lia.

Thiago Freitas disse...

Como sabemos o nosso sistema penitenciário não ressocializa ninguém e está longe disso. Acredito, então, que incluir um adolescente pertencente a uma faixa etária inferior, incluindo, assim, novos indivíduos nesse sistema infeliz seria por demais absurdo. Seria negar a mais um indvíduo a possibilidade de mudança, ideia já tão afastada da sua realidade. A culpa de tal criminalidade não é apenas deles, e sim de TODOS NÓS - em cada um de nossos atos diários - membros dessa sociedade excludente e competidora, na qual, mesmo nas classes mais abastadas, se percebe que condutas pouco probas e éticas vem ganhando espaço sob nomes eufêmicos (como jeitinho brasileiro). Acredito que temos que procurar solucionar a causa do problema e não tentar conter apenas suas consequências. Enquanto, ao invés de descobrirmos o que nos causa uma enxaqueca, buscarmos apenas tomar um analgésico, a solução do problema tende apenas a ser postergada.

Abraços,
Thiago Freitas.

Lia Skaty Pinheiro disse...

Thiago,
sua opinião é muito pertinente. Acredito como você que devemos reformular nossa sociedade.Combater as causas com educação, geração de emprego e renda. Também condeno nosso sistema penitenciário, pois é uma pós em delitos e crimes.Contudo todo esse processo é lento e o cidadão deve ser protegido, essa é a razão pela qual defendo a redução da maior idade penal.
Obrigada por sua participação e o blog está aberto aos mais variados pontos de vista.
Beijo!

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